Wednesday, December 15, 2004

O começo.

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro
este, tinha que ser o começo.

1 comment:

Mar said...

E ainda bem que começaste! Vai saber mesmo muito bem poder ler-te. Espero que escrevas frequentemente. Porque através das palavras, sem dúvida que se conhecem as pessoas. E vai-me saber tão bem conhecer mais um bocadinho de ti, uma palavra de cada vez. Aprofundar a empatia que já sinto e vê-la crescer a cada texto. Gostava que tu também lesses as minhas http://cadalugarmeu.blogspot.com Espero-te lá, com as minhas palavras. Um beijinho grande e uum abraço daqueles (de que já tenho saudades).