Friday, June 22, 2007

vir sem saber, despejar-me de letras como se. lancinantes esses raios sem raio de chão, que brotam com rumo de origem que sabe fazer doer. que sabe o que faz? do estreito labirinto de mim, tomara-me palhaço pobre, sem ter que me mostrar das cores do outro, que não sou.

Sunday, June 17, 2007

sempre perro este reaconchego no retorno a casa. talvez, porque não casa, de facto, esta que me acolhe aqui. fazem-me falta.

Sunday, June 10, 2007

Letras e com laço!

tenho a memória ainda cheia do peso que as letras me faziam, quando o pedido de palavras e textos e criação era transtorno infatigável para a minha mente objectiva e geométrica. num ápice, porém, um dia o chão tornou-se outro. sem o ter programado em mim, chegou como que por surpresa, anunciando-se num apetite ávido que me acometeu. é a força dos outros em nós, é a forma de deixarmos que a pele dos outros passe, aos poucos, a ser também um pouco da nossa própria pele. se em perspectiva de extremidade, é o amor dos homens, pelos homens.
veio o "Pelo Sonho É Que Vamos", o grupo, a amizade, a poesia. o viver pelas palavras. o sentir para escrever, naquele refúgio onde fomos tudo, em todos. lembro-me sempre da escrita de Maria Rosa Colaço, do exemplo mais bonito do que a prosa poética sabe ser. e deste livro aqui, que a Lídia tinha comprado tempos antes, numa zona de alfarrabistas num dia qualquer da Feira dos Golfinhos.
e de o folhearmos com as mãos mais doces, por estar gasto e ser das crianças. e de nos determos na dor das imagens e penetrarmos, por elas, no fosso do que entristece, mas também alegra. e de enchermos a escola das mesmas imagens, por ocasião das nossas reuniões de poesia. e de almejarmos o livro todo para o aconchegarmos a cada um, com as mesmas mãos, ainda mais doces, mas não lhe perspectivarmos um rasto sequer em nenhum canto de lado algum. e de a Dra João, ainda ligada familiarmente à autora, mo tentar desencantar, tendo que o substituir, no entanto, por fotocópias bem feitas do que ela mantinha guardado em casa. e de me avisar da fragilidade da Maria Rosa, numa altura em que a fui conhecer no inóspito sítio onde, por acaso, eu ainda estudava. e de me atormentar pela genialidade definhada, mas ainda assim, se ter tornado dos episódios mais marcantes de mim. (não houve tempo para o chá em sua casa, mas guardo o convite em presente "Com Laço", Maria Rosa...)
este ano, por altura do meu aniversário, a Lídia surpreendeu-me com um exemplar do "Estas Crianças Aqui". desmoronei o desejo que tinha adormecido por impossibilidade de o ver vivo e deixei-me ser feliz-de-criança, como cada uma das que traz dentro. "- não sei bem se ele sabia o valor do que me estava a vender..." - dizias-me... por certo que não. sabemo-lo nós, não digas a ninguém!
na mesma cidade, na mesma feira, mais de duas mãos cheias de anos depois. a Vida não se esquece.

Thursday, June 07, 2007

Ossos do ofício

Corrigir testes é, para mim, tarefa penosa. Fico a dizer mal da profissão, cansada pelas vezes infindáveis em que corrijo as mesmas coisas. Já escrevi mil vezes que é erro colocar uma vírgula entre o sujeito e o predicado, mas ninguém me liga. Outras mil que só os nomes próprios têm letra maiúscula. Continuam a não ligar. Mas, persistente como acho que se deve ser nestas coisas da educação, incansavelmente quanto posso, lá vou escrevendo o mesmo. Muito antes de começar a corrigir os testes, já eu sei o que vou encontrar e isso é que mata aquele factor surpresa que ainda vamos encontrando, no nosso dia-a-dia, no contacto diário com a gente nova.

Corrigir testes é difícil, de grande responsabilidade, cansativo e desgastante. Normalmente, fazêmo-lo quando os outros já relaxam ou dormem, o que ainda sentimos mais como injusto.

Quando tenho que o fazer, lembro-me de mil e uma coisas que tenho vindo a adiar, arrumar roupa, gavetas, papelada, a quantidade grande de folhas A4 que povoa o meu escritório. Lembro-me de gente a quem não tenho telefonado, lembro-me de temas sobre os quais ainda não escrevi, e até de poetas que não leio há muito tempo. Também acho todos os livros interessantes para começar a ler e qualquer conversa que seja do mais entusiasmante que se possa imaginar.

Mas cá vou continuando a cumprir aquilo a que me propus, tenho é pena quando ouço gente a dizer que "ser professor é ter uma vida santa".

Tuesday, June 05, 2007

Colecção

Convidaram-me hoje para expor as minhas corujas no Centro Cultural.
Mais ou menos dentro de quinze dias tenho novidades. Vai dar trabalho, levar cestos com quase três mil... mas vai ser giro.
Any help????

Friday, June 01, 2007

Dia da Criança

Dei um beijo ao Larão e desejei-lhe um óptimo Dia da Criança. Já lá vai o tempo em que distribuía livros pela meninada!...
--Eu já não sou criança, Titata... Sou pré-adolescente!
--Não, não... isso só daqui a vinte anos! - disse eu a brincar.

E ele, que fez 11 anos e tem raciocínio rápido, respondeu:

--Então, só sou adulto lá para os 40, não?