Thursday, June 07, 2007

Ossos do ofício

Corrigir testes é, para mim, tarefa penosa. Fico a dizer mal da profissão, cansada pelas vezes infindáveis em que corrijo as mesmas coisas. Já escrevi mil vezes que é erro colocar uma vírgula entre o sujeito e o predicado, mas ninguém me liga. Outras mil que só os nomes próprios têm letra maiúscula. Continuam a não ligar. Mas, persistente como acho que se deve ser nestas coisas da educação, incansavelmente quanto posso, lá vou escrevendo o mesmo. Muito antes de começar a corrigir os testes, já eu sei o que vou encontrar e isso é que mata aquele factor surpresa que ainda vamos encontrando, no nosso dia-a-dia, no contacto diário com a gente nova.

Corrigir testes é difícil, de grande responsabilidade, cansativo e desgastante. Normalmente, fazêmo-lo quando os outros já relaxam ou dormem, o que ainda sentimos mais como injusto.

Quando tenho que o fazer, lembro-me de mil e uma coisas que tenho vindo a adiar, arrumar roupa, gavetas, papelada, a quantidade grande de folhas A4 que povoa o meu escritório. Lembro-me de gente a quem não tenho telefonado, lembro-me de temas sobre os quais ainda não escrevi, e até de poetas que não leio há muito tempo. Também acho todos os livros interessantes para começar a ler e qualquer conversa que seja do mais entusiasmante que se possa imaginar.

Mas cá vou continuando a cumprir aquilo a que me propus, tenho é pena quando ouço gente a dizer que "ser professor é ter uma vida santa".

4 comments:

Maggs said...

a resistência à obrigação é uma coisa terrível!!! cá estou eu também, em escrita de consultas...

Carlos M. Gomes said...

Às duas escritoras "oblige" a minha solidariedade e apoio. Não desanimem, pois fazem-nos muita falta pessoas como vocês, que ensinam com persistência, sem facilitismos nem favores, que são exigentes consigo próprias nos estudos para serem boas no que fazem. Continuem...

bjs

Tata said...

Obrigada pelo elogio, Carlos. Nesta altura, sinto-me sempre muito cansada, mas nas férias recupero. E em Setembro, lá estou eu novamente com a força toda. É sempre assim...
Que o seja por muitos anos, que a reforma vem bem longe!

Unknown said...

A minha mãe queixa-se do mesmo... Força! =)