Saturday, December 30, 2006

2007

vinhas solta, dominada por um entusiasmo absolutamente feliz. feliz!! e, comigo na ressaca de uma água que me refrescou quente, abraçaste-me - sem me tocares - em contágio. eram os astros, e os signos, e 2007, e os dias, e os abençoados por esta luz incandescente, e os abençoados dos abençoados, com a data a tocar o limite, mas incluindo-me, claro está!! e nessa azáfama de anúncios e esperança, corri concretamente, num instinto que não queria, os teus sonhos feitos meus - ou os meus apenas, que é tudo a mesma coisa! e não desvendei um único motivo para ter mais crença num ano maior; mas, sabes, também nem um único para não tê-la!

mas, os astros, Mami!?! é que ambas acreditamos muito nessas coisas!!

bem, um Bom Ano a todos.

Wednesday, December 20, 2006

a estrada ia célere, o perigo iminente na distracção idiossincraticamente tua e, perante o apelo cego, gostei da tua mão mais nova -- afinal-sempre-amiga -- sobre o meu joelho.

Friday, October 27, 2006

Numa sala de espera qualquer

-Que horas são, menina, se faz favor?
-Nove e cinco.
-Olhe, é que eu tenho que tomar o remédio às 10. Hoje não trouxe o relógio. Esqueci-me de o pôr, veja lá!
A menina, que é tudo menos menina, porque o tempo não pára e as meninas já não são ela, olha em volta e promete avisá-la quando forem horas.
A sala não é muito grande, tem cadeiras, guichets, gente a pedir consulta, gente a dizer que tem que esperar e a pedir o cartão e, de vez em quando, alguém que grita "Senhor Fulano de Tal, o Senhor Doutor está à espera no gabinete três".
Rapidamente se observa o espaço. Nada tem de especial, é igual a tantos outros, tantos por esses hospitais fora. Cheira a medicamentos, a desinfectante, a dor. Está cheio de histórias de vidas, de tristezas, de televisões a emitir programas encantadores (encanta+dores), de homens e mulheres que carregam às costas o peso dos anos.
Nisto, chega outra paciente. Conhece a primeira. Sentam-se a conversar. A "menina" ouve-as mesmo que não queira, estão lado a lado e, também, não são conversas para ficar guardadas, são assuntos banais.
-Olha, tenho que tomar o remédio às dez horas. Esta menina diz-me quando forem horas. Ainda há gente simpática!
A outra anuiu. Olhou-a de alto a baixo e comentou:
-Ficam-te bem essas calças!
-Tenho outras, azuis. Olha, é verdade, no outro dia dei-te apenas dois limões. Fiquei tão aborrecida!
-Fiz um chazinho!
-Quando entrei na cozinha e vi ainda um limão na fruteira, pensei "Olha, só lhe dei dois!"
Limão para aqui, limão para ali, a conversa seguia, as palavras ligadas umas às outras, coladas, em fila para sairem, brotarem de vidas preenchidas.
A "menina", que tinha chegado primeiro, despachou-se uns bons dez minutos antes das dez. Pelo sim pelo não, apesar de o medicamento poder esperar, que a conversa cura mais que o comprimido, avisou "Faltam dez para as dez, é que tenho que me ir embora". E foi.
Se tomou ou não o remédio, que importa? Isso pode até esperar, que a converasa com a amiga faz bem melhor à alma, tal como encontrar meninas simpáticas com quem meter conversa, tal como ver gente, nem que seja numa sala de espera de um hospital, tudo é melhor que estar só, em casa, entregue às pequenas tarefas, já poucas, a ouvir apresentadores que transportam alegrias, a olhar para a fruteira da cozinha com meia dúzia de maçãs e um limão, que ficou por dar!

Escrever

Não há nada melhor que agarrar no lápis e escrever. Quando se começa, não se tem propriamente ideia do que vai sair. No entanto, continuamos a tentar transpor para a escrita o peso das emoções que transbordam no nosso sentir.
E escrevemos. Riscamos e voltamos a escrever. Sentimos e voltamos a sentir. Tentamos que se assemelhem os sentires e, como o outro dizia, fingimos que tudo coincide.

Obrigada!

8.10 da noite. Chovia. Já não tanto como antes, mas a chuva era gelada, o vento desagradável a a maçada de carregar o chapéu já cansava. Os últimos dias tinham sido assim.
À porta de casa um velhote. Desde as quatro da tarde que esperava que alguém chegasse. Teve azar, com o dia, com a chuva, com a reunião que atrasou a chegada de alguém a quem ele se dirigisse.
- Aqui tem umas perdizes, do melhor que me encontraram. Ontagora foram-mas levar. Eu queria dar as melhores, sabe, há muitos anos que as trago sempre ao Senhor Doutor por esta altura. Costumo trazer nos Santos, mas para os Santos podia não haver e eu quero dar as melhores...
Bom homem. Obrigada. Que pena o que te custou este final de dia. Que pena teres estado de guarda-chuva aberto tanto tempo. E em pé. À espera. Que pena a tua vida de velho, e as dores, e os achaques, e a tua mulher doente, que a esta altura pergunta "onde andará aquele homem?"
-Vá, vá para casa, não fique ela mais preocupada ainda...
Que bom ainda estarem juntos e a tua filha "só tenho uma, mas tenho duas netas" e a tua simpatia, e a tua humildade e a tua vontade férrea de continuares a dar, por altura dos Santos, as "perdizinhas" ao Senhor Doutor, que te faz querer ambicionar estar vivo, porque a folha cai, mas tu não, de maneira alguma queres quebrar a tradição que já cumpres há dezoito anos!
Obrigada! Não tanto pelas perdizes, mas pelo que te agarra à vida!

Sunday, October 22, 2006

poema

Palavras desadjectivadas
silêncios mornos,
recordações irreais, sonhadas
de céus acinzentados e claros
de uma madrugada nascida.
Sentada nesta cadeira de baloiço
recordo a África nunca vivida,
abraçada a eternidades de espaço,
sentindo o cheiro a ocre do campo aberto.

Vejo animais esvoaçando
sob os cinzentos azuis brilhantes
numa madrugada nascida.
Recordações
de vidas que não vivi.
Palavras desadjectivadas
de poemas que não escrevi.
Silêncios mornos que engasgam
de dores que não sofri.
Áfricas, campos, azuis,
aves, animais,
misteriosa ideia
do que se pretende da vida.


F. , Jan 03

Fita de Curso da Margarida

Maria Margarida, mimoso malmequer, morena menina, minuciosa miúda, moderna e metódica mulher, modesta e madrugadora médica, multifacetada e melómana musa de mancebos mil.
Magicas maneiras de meditação, mas menosprezas memoráveis momentos merecidos. Martirizas-te com murmúrios do mundo, com a malvadez, os medos, as manhas, as mágoas, a maledicência, o mal!
Mira a mansidão do monte, medita no melodioso marulho do mar, mistura a música e a magia, manuseia a medalha máxima da maior meta, medica, melhora as mazelas dos magoados, mima-te, mostra que mereces a magnífica e magistral meiguice da manhã.
Mãe

Maio 05

Monday, September 25, 2006

oferecemos dois colares à nossa Mãe. coloridos, de linhas, giros! a melhor da Avó foi:

"- filhas, com tantos cordões de ouro bonitos!"!!!! eheheh!

Tuesday, May 30, 2006

querido Amigo, a certeza da saudade e a de que o céu tem as tuas guitarras...

Thursday, March 16, 2006

Papéis...

era um vez. longe, mas não o suficiente para o perder da memória. fazia um estágio de Cirurgia no HFF e era dia de banco. a Pequena Cirurgia era o meu lugar, porque era o dos mais novos. e ao fim da tarde chegou o João, que é João por não o ser. trazia uma mão em dor, cortada por um azulejo quebrado de sei lá onde, com que brincava com os amigos da escola. era criança, o João, 5 ou 6 anos e não mais. e gostava do hábito de brincar, e gostava dos companheiros, e todos gostavam das "guerras de azulejos".

parecia chegar sozinho. num pranto difícil que o sangue entoava. chamava pela mãe. espreitei pelo corredor e, numa insistência maior que o que sou, consegui trazê-la para a sala. ficou a um canto, de costas para tudo. apática e sem voz. sem nervosismo, gélida, indemovível. a Catarina começou a suturar a ferida. o pequeno contorcia-se a cada avançar da agulha, sem movimento. chorava, chorava muito. e chamava pela mãe. na mão sã guardava a minha mão e um rebuçado amarelo, que apertava como revolta a solucionar o que magoava. e buscava o alcance do que não tinha. em pedra permanecia o canto da sala. perguntei-lhe... e ele chamava-a...

aposentou-se de uma função, digo eu. era a mãe, disse-me ela...

Wednesday, February 15, 2006

Gosto...

gosto de alvoradas. se de Sol, então melhor! mesmo que a cara se pinte, em bolas, de encarnado. pelo frio. ou pelo cansaço, que para lá é a subir. gosto dos dias a acordar. e caminhar, em sono, pelas calhas da cidade. e cruzar-me com quem também caminha sempre, e que vou conhecendo de cor. um bom dia, que não digo! e hoje foi chegar, e descobrir o dia já cumprido. e o de amanhã! mas não gostei do motivo... e o metro que começou a tocar. e às nove horas e pouco guardar já hora e meia de caminho. e retornar, como quem não saiu, para um dia meu, a casa.