Thursday, March 16, 2006

Papéis...

era um vez. longe, mas não o suficiente para o perder da memória. fazia um estágio de Cirurgia no HFF e era dia de banco. a Pequena Cirurgia era o meu lugar, porque era o dos mais novos. e ao fim da tarde chegou o João, que é João por não o ser. trazia uma mão em dor, cortada por um azulejo quebrado de sei lá onde, com que brincava com os amigos da escola. era criança, o João, 5 ou 6 anos e não mais. e gostava do hábito de brincar, e gostava dos companheiros, e todos gostavam das "guerras de azulejos".

parecia chegar sozinho. num pranto difícil que o sangue entoava. chamava pela mãe. espreitei pelo corredor e, numa insistência maior que o que sou, consegui trazê-la para a sala. ficou a um canto, de costas para tudo. apática e sem voz. sem nervosismo, gélida, indemovível. a Catarina começou a suturar a ferida. o pequeno contorcia-se a cada avançar da agulha, sem movimento. chorava, chorava muito. e chamava pela mãe. na mão sã guardava a minha mão e um rebuçado amarelo, que apertava como revolta a solucionar o que magoava. e buscava o alcance do que não tinha. em pedra permanecia o canto da sala. perguntei-lhe... e ele chamava-a...

aposentou-se de uma função, digo eu. era a mãe, disse-me ela...

9 comments:

Ana said...

Imagens cruéis. Vidas tão reais.
E como um simples dar a mão pode substituir a falta de tudo o que é essencial na vida... o amor.
Continuo a achar que darias uma excelente pediatra.

pedro said...

nada a ver...Parabens|

Era uma vez um Girassol said...

Descobri mais um girassol!
Viver ou ver a vida como um girassol é um dom...
Gostei de ler o post; por ser uma situação real ainda nos põe mais triste...
Boa Páscoa!
Bjs

pedro said...

A cena é verídica. Passou-se durante uma prova oral na Faculdade de Medicina em Coimbra.

Pergunta o examinador a uma aluna:
- Minha senhora diga-me por favor qual é o orgão do corpo humano que dilata até sete vezes o seu tamanho normal?
A aluna retorce-se, transpira, cora indecentemente. Recusa-se a responder à pergunta. Numa sucessão de respostas infelizes a outras questões acaba por chumbar.

Na oral imediatamente a seguir o professor resolve insistir na pergunta:
- Minha senhora, qual é o orgão do corpo humano que dilata até sete vezes o seu tamanho normal?
A aluna, respondendo prontamente: - É a íris senhor professor.
O examinador (com um sorriso largo): - Por favor diga à sua colega que vai ter muitas desilusões ao longo da vida...


hehehhe..boa sorte para os estudos, e não te esqueçças que a íris dilata 7 x!

Maggs said...

não me parece que seja a íris, mas a pupila!:p obrigada, um bjinho grande!

pedro said...

Pois..Eu de olhos não percebo nada...Só sei que olhos verdes são traição.. lololol...Bons estudos e tudo de bom pa ti!

Kabum said...

Falhou um cadito essa mãe

Anonymous said...

Cá estou eu..o meu primeiro comentário! Escolhi este post porque não consigo deixar de me rever nas tuas palavras. Há exactamente uma semana, numa outra sala de pequena cirurgia, num outro hospital, chegou um ‘João’, o meu ‘João’ chamava-se Guilherme, 4 anos corajosos e uma ferida na cabeça que precisava claramente de uns 7 ou 8 pontinhos. Preparei a mesa com o Guilherme a seguir todos os meus passos com uns olhos atentos e cada vez menos determinados a passar por “tantas picas e agulhas!” de forma pacífica. Perguntei à mãe se estava disposta a ajudar-me, agarrando o pequenino Guilherme que cada vez estava menos disposto a colaborar. Respondeu prontamente que não conseguia porque ía ‘desmaiar’ e pediu-me para abandonar a sala. E assim foi. A enfermeira ainda comentou ‘ó doutora, mais vale uma sutura difícil do que duas cabeças para suturar!’, sorri nervosa. … lá consegui ‘recrutar’ duas auxiliares e duas enfermeiras para a ‘guerra’ que nos esperava!..depois de muitos pomtapés, muitos gritos pela ‘minha mamã!’, muitos ‘isso dói !isso dói!” consegui dar o último ponto e afirmar com satisfação ‘já passou Guilherme!’. No fim, ainda ganhei uma beijoca e um adeus satisfeito, aí sim, já de mão dada com a mãe..

Anonymous said...

Cá estou eu…o meu primeiro comentário! Escolhi este post porque não consigo deixar de me rever nas tuas palavras. Há exactamente uma semana, numa outra sala de pequena cirurgia, num outro hospital, chegou um ‘João’, o meu ‘João’ chamava-se Guilherme, 4 anos corajosos e uma ferida na cabeça que precisava claramente de uns 7 ou 8 pontinhos. Preparei a mesa com o Guilherme a seguir todos os meus passos com uns olhos atentos e cada vez menos determinados a passar por “tantas picas e agulhas!” de forma pacífica. Perguntei à mãe se estava disposta a ajudar-me, agarrando o pequenino Guilherme que cada vez estava menos disposto a colaborar. Respondeu prontamente que não conseguia porque ía ‘desmaiar’ e pediu-me para abandonar a sala. E assim foi. A enfermeira ainda comentou ‘ó doutora, mais vale uma sutura difícil do que duas cabeças para suturar!’, sorri nervosa. … lá consegui ‘recrutar’ duas auxiliares e duas enfermeiras para a ‘guerra’ que nos esperava!..depois de muitos pontapés, muitos gritos pela ‘minha mamã!’, muitos ‘isso dói !isso dói!” consegui dar o último ponto e afirmar com satisfação ‘já passou Guilherme!’. No fim, ainda ganhei uma beijoca e um adeus satisfeito, aí sim, já de mão dada com a mãe..