Friday, October 27, 2006

Obrigada!

8.10 da noite. Chovia. Já não tanto como antes, mas a chuva era gelada, o vento desagradável a a maçada de carregar o chapéu já cansava. Os últimos dias tinham sido assim.
À porta de casa um velhote. Desde as quatro da tarde que esperava que alguém chegasse. Teve azar, com o dia, com a chuva, com a reunião que atrasou a chegada de alguém a quem ele se dirigisse.
- Aqui tem umas perdizes, do melhor que me encontraram. Ontagora foram-mas levar. Eu queria dar as melhores, sabe, há muitos anos que as trago sempre ao Senhor Doutor por esta altura. Costumo trazer nos Santos, mas para os Santos podia não haver e eu quero dar as melhores...
Bom homem. Obrigada. Que pena o que te custou este final de dia. Que pena teres estado de guarda-chuva aberto tanto tempo. E em pé. À espera. Que pena a tua vida de velho, e as dores, e os achaques, e a tua mulher doente, que a esta altura pergunta "onde andará aquele homem?"
-Vá, vá para casa, não fique ela mais preocupada ainda...
Que bom ainda estarem juntos e a tua filha "só tenho uma, mas tenho duas netas" e a tua simpatia, e a tua humildade e a tua vontade férrea de continuares a dar, por altura dos Santos, as "perdizinhas" ao Senhor Doutor, que te faz querer ambicionar estar vivo, porque a folha cai, mas tu não, de maneira alguma queres quebrar a tradição que já cumpres há dezoito anos!
Obrigada! Não tanto pelas perdizes, mas pelo que te agarra à vida!

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