Sunday, June 26, 2005

Parabéns!

tinha-vos pedido uma mão! o Sol nem sempre brilha e não queria que o girassol morresse. o Pica leva as coisas a sério e eu agradeço! ofereceu-nos palavras; sempre o melhor de se receber, digo eu!! o Pica é um homem de palavras, daqueles que as escolheram para companhia eterna. também diária, permanente. é um escritor à séria, dos que fazem livros dos que se vendem e tudo! houve uma vez que o lemos em conjunto, na nossa passagem de ano, num fim de madrugada, junto à lareira. talvez não se lembrem, sei lá se pelo sono, se pela bebedeira! a Nekas lembra-se, quero crer. do Pica, o melhor poema, e ele sabe disso! o Pica gosta de SOP.A.! e hoje o Pica faz anos! parabéns, Picalima!!


"Estavam os dois sem maneira de estar, e quanto mais voltas davam mais escorriam para a embuscada do silêncio.
O tempo mata tudo, é popular, mas o paliativo costuma aconselhar-se à maleita, ou não fosse essa a sua razão de ser. Agora isto de matar antigas cores... Ainda agora, há bocado, dantes, se irritavam um ao outro por não pararem calados...
O mais gordo, o cinzento, esgravatava o maço cinzento, sacava, acendia, engolia e cantava um fumo cinzento. E isto que o homem, desde manhã, e era já noite, andara a partir o dia em calendários solenes para dosear o vício. Os cigarros andam sempre atrás dos silêncios, e muito mais quando os vêem uns atrás dos outros.
O outro, o branco, o fino, como era o que morava, demitia-se dos rituais de visita, só ficava, como se ser presença fosse já importância quanto baste, profissão a sério. Chegava-lhe ser um tipo calado daqueles que encolhe os ombros das palavras. Mas também ele o sentia, o breu mudo.
Nisto ficavam, sem saber ficar, isso era óbvio, quando o cinzento teve a ideia de génio, que é sempre a mais básica. O recurso, sempre próspero, que remédio, às épocas do tempo que não existe:
- E o Zé Manso?
- Finou-se.
- Hum... E a Zefa?
- Morreu.
- Hum... E o Pescoço, esse parvo?
- Já foi tarde.
- Nem fazia cá falta!
- Os que cá estão não fazem eles...
- É verdade... E a tua mãe? Como está a dona Jesuína?
- Faleceu.
- Hum... Já tinha uma certa idade.
- Teve sempre.
- Hum... E o Carvalho.
- Já lá está.
- Hum...
- ...
- ...
- ...
- ...
- Então e tu, pá? - com palmada nas costas, código secreto de máximas intimidades públicas.
- Eu? Eu ainda não perdi a esperança..."

2 comments:

Unknown said...

Lembro-me bem do livro, da Nekas ainda em Estremoz porque fomos as duas antes ter contigo... lembro-me de o procurares na estante e de termos lido ainda um pouco em cima da tua cama... Depois conversamos e depois veio a Galé e o Pica lá também! ;) Parabéns ao Pica!

Maggs said...

e eu que te tinha colocado no grupo das bêbedas, Mikitas!:P já não me lembrava dessa parte; obrigada por a teres guardado!:)