Miguel Torga tem um conto em "Bichos" sobre um cuco, o Farrusco. Segundo uma tradição pagã, as raparigas sempre que ouviam um cuco a cantar, perguntavam-lhe:
--Cuco do Minho, cuco da Beira, quantos anos me dás de solteira?
As vezes que o cuco cantasse equivaliam ao número de anos até ao casamento.
Ora acontece que no Alentejo também esse era costume que se usava. Conta o meu pai, que já leva 88 anos bem vividos, que ouviu há tempos a conversa entre duas mulheres que pintavam os muros da quinta. Uma dizia que, quando era nova, tinha feito a pergunta ao cuco e que ele tinha cantado sete vezes. Em seu entender, o cuco até tinha acertado, pois casou daí a seis anos e alguns meses. A outra não ficou atrás e disse que também o tinha feito, só que o cuco cantou dez vezes, mas ela que pouco se tinha importado, pois três anos depois, resolveu mesmo casar.
Na semana passada, o meu pai ouviu um cuco e, bem humorado como ele é, brincou, adaptando a pergunta. Mas o interessante desta história é que ele a conta com todo o gosto.
--Cuco da ribeira... cuco da ribeira... Depois da minha mulher morrer, quantos anos me dás de solteiro?
E o cuco cantou, nada mais nada menos, que quarenta e cinco vezes. E o meu pai riu... riu e disse:
--Eh, pá... vais ver que sou eterno!
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
3 comments:
A minha mãe tem menos nove anos que o meu pai...
era um dado importante!!!!:) faltou, após as palavras, o rir a bom grado que eu sei de cor!!
é mesmo do avô :)
Post a Comment